Pessoas
Definitivamente a escola deixou de ser um espaço de repasse de conhecimento, de forja da personalidade, da criação do dito ‘cidadão crítico’.
Parece o fim dos tempos...
Será?
Entendo que ainda tem jeito, porém alguns ajustes precisam ser feitos, algumas situações precisam ser revistas. A família precisa ser repensada, ser ajudada.
Boa leitura
Quando a escola é o espaço do inferno
Quase mil alunos são punidos, suspensos ou expulsos por dia nas escolas. Quase mil por dia, alguns com cinco anos de idade! Por abusos verbais e físicos. No ano passado, 44 professores foram internados em hospitais com graves ferimentos. Diante do quando negro, o governo decidiu que professores poderão "usar força" para se defender e apartar brigas. E poderão revistar estudantes em busca de pornografia, celulares, câmeras de vídeo, álcool, drogas, material furtado ou armas.
Fragmento omitido em favor da expectativa (1)
Os dados são de um relatório governamental. "O sistema escolar entrou em colapso", diz a funcionária demitida (2) do Departamento de Educação depois de criticar a violência nas escolas públicas (3). "Os professores acabam sendo culpados pela indisciplina. A diretoria da escola estimula essa teoria, os alunos a usam como desculpa e até os professores começam a acreditar nisso. Eles não pedem ajuda com medo de parecer incompetentes".
Os alunos jogam a cadeira no mestre, chutam a perna do mestre, empurram, xingam. Ou furam o mestre com lápis, fazem comentários obscenos, estupram, ameaçam com facas. Alguns são casos extremos pinçados pela imprensa. Os números preocupam. Mostram que as escolas precisam restaurar a autoridade perdida. Muitos professores abandonaram a profissão por se sentir impotentes. Educadores mais rigorosos pregam tolerância zero com alunos bagunceiros e que não fazem seu dever de casa.
As reflexões de lá são iguais as de cá. A violência nas escolas seria uma continuação do lado de fora, na rua e nos lares. A hierarquia cai em desuso. Valores e limites, que quer dizer isso? Crianças e adolescentes não respeitam ninguém. Nem os pais, nem as autoridades, os colegas, as namoradas. Há uma falta de cerimônia, pudor e educação no sentido mais amplo.
E aí a culpa é jogada nos pais. Por não mostrarem o certo e o errado. Não abrirem um tempo de qualidade com os filhos. Esquece-los em frente a um computador ou televisão. O de sempre. O aluno que peita o professor também xinga os pais. Aric sigman, da Royal Society of Medicine, em Londres, autor do livro The spoiltgeneration (A geração mimada), afirma que, hoje, até criancinhas nas creches jogam objetos e cadeiras umas nas outras. "Há uma inversão da autoridade. Seus impulsos não são controlados em casa. É uma geração mimada, que ataca especialmente as mães", diz ele.
E o que o governo faz? Manda o professor revidar. Até agora, ele era proibido de tocar no aluno, mesmo ao ensinar um instrumento numa aula de musica. A nova cartilha promete superpoderes aos professores. Mestres, usem "força razoável", vocês agora têm a última palavra para expulsar um aluno agressivo, revistem mochilas suspeitas. Dará certo? Não acredito. Sem dialogo e consenso entre famílias, escolas, educadores e psicólogos, esse pesadelo não tem fim.
No Brasil, a socióloga Miriam Abramovay, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flasco), admite que os professores passaram a ter medo. Numa pesquisa para a Unesco em Brasília, em 2002, um depoimento a chocou: "Um professor me disse que ia armado para a escola. Como se fosse uma selva. Isso mostra total descrença no sistema". Ela acha que o Brasil está investindo dinheiro demais em bullying, mas esquece todo o resto: "Nossa escola é de dois séculos atrás". Os ataques aos professores não se limitam à sala de aula. Carros dos mestres são arranhados, pneus são furados. Eles não tem apoio nem idéia de como reagir. Muitos trocam de escola ou abandonam a profissão.
Quando Cristóvam Buarque era ministro de Lula, tinha, com Miriam, um projeto nacional de "mediação escolar" para prevenir conflitos, melhorar o ambiente e estimular o aprendizado. "Paulo Freire dizia que a escola era o espaço da alegria, do prazer, mas assim ela se torna o espaço do inferno", diz Miriam. O projeto não vingou. Cristovam abandonou o barco por sentir que Educação não era prioridade nos investimentos.
E continua não sendo. Deveria ser nossa obsessão.
(1) - Achou que era no Brasil? É na Grã-Bretanha
(2) - Katharine Birbalsingh
(3) - Escolas inglesas
(4) - Britânico
Fonte:
Seção Nossa Antena
Colunista Ruth de Aquino
Revista Época nº 687 / 18 de Julho 2011
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