terça-feira, 13 de setembro de 2011

Prefeitura dá cargos a dirigentes de associações comunitárias

Pessoas
Algumas atitudes precisam ser revistas. Ou por serem danosas, ou por gerarem dúvidas...
Questiono a validade de "nomeações" de algumas pessoas ditas estratégicas.
E a tal da meritocracia, onde é que fica?
Quando algum administrador público precisa de alguém para compor a sua equipe, e tem em sua família ou no seu círculo de amizade alguém com formação e perfil para aquilo que ele deseja, não pode fazê-lo pois caracteriza nepotismo.
Pergunto: e os casos relatados na reportagem? Que título ou caracterização recebem?
Com vocês a leitura e conclusão

Líderes de entidades ganham salários em postos de confiança. Especialistas dizem que relação traz prejuízos para a democracia

Presidentes de associações de bairros de Curitiba estão ganhando cargos dentro de instituições públicas para “intermediar” o diálogo com a população mais carente da capital. Levantamento feito pela Gazeta do Povo mostra que pelo menos 14 dirigentes de associações de moradores e clubes de mães de Curitiba e região metropolitana foram contratados pela prefeitura da capital, pelo governo do Paraná e pela Câmara de Curitiba em cargos comissionados.
Especialistas afirmam que pode estar ocorrendo uma perigosa cooptação dos dirigentes dessas entidades: ao ganhar um salário público, eles estariam se comprometendo a carrear votos para seus novos chefes políticos. Os líderes comunitários negam que haja problemas no relacionamento, mas as três principais centrais que reúnem as associações de bairros têm ligações políticas e partidárias.

A Federação Comunitária das Associações de Moradores de Curi­­tiba e Região (Femoclam), por exemplo, tem três diretores e coordenadores empregados na prefeitura de Curitiba. Um deles é funcionário da Câmara Muni­cipal. O presidente licenciado é o ex-vereador Valdenir Dias, atualmente contratado como assessor parlamentar das comissões do Legislativo municipal.
O presidente da Femoclam, Nilson Pereira, diz, porém, que os líderes de bairro são orientados a ter independência do poder pú­­blico. Ele destaca que a entidade é autônoma e afirma que o ex-vereador Valdenir não participa da administração por ter vinculação com a Câmara. “Para não dar rolo, para não dizerem que estamos nos beneficiando.” Contraditoria­mente, a sala da presidência da entidade é recheada de fotos e ho­­menagens a Valdenir.
O presidente interino da Fe­­deração das Associações de Mora­­dores do Paraná (Famopar), Luiz de Mauro, é funcionário em co­­missão na prefeitura da capital contratado como agente público da Companhia de Habitação Po­­pular de Curitiba (Cohab). Tam­bém integra o Conselho da Ci­­dade de Curitiba (Concitiba) e o Con­­selho Estadual de Saúde (CES).
“Trabalho com regularização fundiária e conflitos fundiários. Na mobilização das comunidades”, diz Mauro. O presidente, que está reativando a organização, admite proximidade com algumas instituições, mas minimiza o problema. “Eles fazem palestras e nos dão o espaço para reuniões ou fornecem o café”, afirma.
Do outro lado, está o presidente da Federação Democrática das Associações de Moradores, Clu­bes de Mães, Entidades Benefi­centes e Sociais de Curitiba (Fe­­mo­­tiba), Edson Feltrin. Embora não tenha cargo político no momento, Feltrin é filiado ao PDT – partido de oposição ao prefeito Luciano Ducci (PSB). E atua como verdadeiro oposicionista: foi ele, por exemplo, quem levou à Câmara um pedido de impeachment contra o presidente do Legislativo municipal, João Cláudio Derosso (PSDB), por supostas irregularidades em contratos de publicidade.
Feltrin também prega independência. Diz que “líderes co­­munitários não podem ser pedintes a vida toda” e por isso defende a autonomia das associações. Ele defende a atuação que faz como uma forma de “conscientização”. “A finalidade da Femotiba é elevar a consciência política das lideranças”, resume.

Especialistas
Contratações reforçam clientelismo
O fato de líderes de bairros se aproximarem de políticos em troca de obras e investimentos gera uma relação de dependência com o poder público com prejuízo ao sistema democrático, segundo especialistas. Para a doutora em Ciência Política Samira Kauchakje, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o problema acontece quando o poder público passa a atender os pedidos não porque eles são um direito dos cidadãos, mas sim porque há um compromisso político das lideranças. “A troca de votos é o que motiva a relação clientelista”, afirma.
O professor de História José Roberto de Vasconcelos Galdino, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que trabalhou em seu mestrado justamente a formação política das associações de moradores em Curitiba, explica que a relação de interdependência não é nova. Essa característica, segundo ele, começou a se formar na década de 80, quando prefeitos de estilo mais popular – como Maurício Fruet e Roberto Requião – governaram a capital e levaram líderes comunitários para dentro da administração pública. Segundo ele, isso enfraqueceu o movimento popular na época, que havia sido bastante combativo contra a Ditadura Militar.
Comissionados negam, mas fazem campanha
Os dez líderes comunitários empregados na prefeitura de Curitiba garantem que ter um cargo em comissão não significa apoio incondicional ao Exe­cutivo e aos seus representantes. Todos dizem que foram contratados na capital para realizar funções de assessoramento de associações de bairro e clubes de mães, além de in­­termediar as reivindicações com o poder público. Não ha­­veria compromisso de apoio eleitoral.

Os dez líderes comunitários empregados na prefeitura de Curitiba garantem que ter um cargo em comissão não significa apoio incondicional ao Exe­cutivo e aos seus representantes. Todos dizem que foram contratados na capital para realizar funções de assessoramento de associações de bairro e clubes de mães, além de in­­termediar as reivindicações com o poder público. Não ha­­veria compromisso de apoio eleitoral.
No entanto, as declarações de alguns deles contradizem isso. “A gente está conscientizado o pessoal que a gente tem que eleger o Luciano Ducci (PSB) porque os candidatos que estão vindo aí não conhecem nossa realidade”, diz, por exemplo, a presidente da União de Mulheres Líderes Comunitárias de Curitiba, Maria da Paz Basso. Ela é agente da Secretaria Muni­cipal Extraordinária de Re­­lações com a Comunidade.

No ano passado, Edson Pe­­reira Rodrigues, conhecido como “Edson Parolin”, foi multado pela Justiça Eleitoral por discursar em um evento público pedindo votos para Beto Ri­­cha (PSDB), que disputaria o governo em outubro. O discurso foi feito em maio, quando a campanha ainda era proibida, durante um evento de distribuição de cobertores da prefeitura de Curitiba. No mesmo evento, a atual primeira-dama do estado, Fernanda Richa, tam­­bém discursou e acabou multada pelo Tribunal Regio­nal Eleitoral (TRE).
Há dez anos à frente da associação de moradores do Parolin, Rodrigues tem na ponta da língua as várias conquistas: “As­­falto em toda a vila, unidade de saúde em construção, armazém da família, Centro de Assis­tên­cia Social, três creches, uma es­­cola, uma academia, um campo de futebol sintético e uma vi­­la para carrinheiros.” Porém, ele não se ilude. Sabe que as me­­lho­rias aconteceram por interesses eleitorais. “O político nunca vê você. Vê o que está atrás, os vo­­tos que ele pode conseguir”, diz. Filiado ao PSDB, Edson Pa­­rolin é hoje gestor público da Companhia de Habitação Po­­pular de Curitiba (Cohab).

Discurso
No discurso, porém, os líderes são todos contrários a qualquer relação de dependência com o poder público. “Eu sou responsável por vistoriar as ruas que precisem de tapa-buraco, acompanhar pedidos. Tudo em relação a queixas que dependam da prefeitura”, conta Luiz Carlos Saragiotto, filiado ao PSDB, presidente da Associação de Mora­dores Jardim Florianópolis (Ca­­juru) e agente público na Se­­cretaria de Governo Municipal. “Sei o que a comunidade precisa e o que prefeitura pode contribuir”, justifica Jonas Lemes dos Santos, da Associação Co­­munitária Andorinhas e assessor da Administração regional da Boa Vista.
Para eles, ser funcionário pú­­blico não significa ser condescendente com os políticos. “Você não tem ideia de como eu bato na prefeitura, se for necessário”, diz Neemias Portela, presidente da Associação de Mora­dores da Vila Autódromo e gestor público da Secretaria de Re­­la­­ções com a Comunidade. “A comunidade é a que mais ganha nessa relação, ela é mais bem atendida”, defende o presidente da União das Associações de Moradores da Cidade Industrial, Iranei Fer­nandes, contratado como gestor público da Administração regional da CIC.

Secretário diz que não há dependência
O secretário de Relação com a Comunidade da prefeitura de Curitiba, Fernando Guedes, ne­­ga que a contratação de líderes comunitários para intermediar o diálogo entre a prefeitura e as reivindicações da população gere uma relação de de­­pen­dên­cia política. Segundo ele, as questões partidárias e elei­­torais não influenciam no atendimento dos pedidos de obras e investimentos nas co­­mu­­nidades. “A atenção que a prefeitura dá é igual para todas as associações de moradores”, diz.

Reuniões
Desde o mês passado, a se­­cretária de Estado da Família e Desen­volvimento Social, Fer­­nanda Richa, tem se encontrado com líderes comunitários de Curitiba nas sextas-feiras de manhã no Palácio das Arau­cárias, sede do governo estadual. Um café da manhã é oferecido ao grupo depois de discursos que falam da “parceria” en­­tre a prefeitura da capital e o governo.
No último dia 26, a Gazeta do Povo acompanhou uma reunião com representantes de Santa Felicidade. “Estamos aqui para conversar, relembrar o que a gente já fez e falar sobre o que a gente pode fazer no fu­­turo”, disse Fernanda.

Fonte:
http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1167233&tit=Prefeitura-da-cargos-a-dirigentes-de-associacoes-comunitarias

Nenhum comentário:

Postar um comentário