segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Edição 138 - Pista de avião abre polêmica ambiental

Pessoas
Já foi discutido em vários grupos, de ambientalistas, geógrafos, sobre a implantação desse empreendimento.
E a justiça? Embarga ou proíbe?
Pensem

Obra de aeródromo, que fica dentro de área de proteção do Iraí e nas imediações do Parque Estadual da Serra da Baitaca, está embargada


Pista particular que existe há oito anos está sendo pavimentada e ampliada em 300 metros

A construção de um aeródromo particular em Pi­raquara, Região Metro­po­­litana de Curitiba, colocou ambientalistas e empresários em rota de colisão. Registrada na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a obra foi embargada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) devido à falta de licenças.
A pista de pousos e decolagens pertence à empresa Portal da Graciosa Logística Ltda. Os sócios são os filhos de Luiz Bonacin, proprietário da fazenda cortada pela obra, e de Francisco Simeão, dono da empresa BS Colway.
O IAP informa que uma licença foi emitida em 2011 para a terraplanagem na pista para aviões de pequeno porte já existente, chamada de Bonacin I. A autorização foi concedida, diz o órgão, porque não haveria necessidade de desmate na região. O aeródromo é vizinho do Parque Estadual da Serra da Baitaca e está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Iraí.
Em 2012, porém, a Portal da Graciosa teria iniciado a pavimentação da pista sem pedir novo licenciamento ambiental. Por isso, a continuidade da obra está proibida até que sejam regularizados os procedimentos necessários. No dia 17 de agosto, a empresa solicitou a licença prévia para término da pista. O pedido está em análise.
Grupos ambientais da região se uniram para tentar impedir o reinício dos trabalhos no local. Segundo Cláudio Jésus de Oliveira Esteves, doutor em geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e morador de Quatro Barras, as escavações já atingiram o lençol freático e podem afetar o abastecimento de água. “Isso [as escavações] é uma interferência no sistema hídrico, já que os principais mananciais da cidade estão lá e afetará toda a região”, critica.
A pedido da Gazeta do Povo, Altair Rosa, professor do curso de engenharia ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), analisou fotos da obra. “Teve desmatamento e grande movimentação de terra para fazer algo parecido com um duto. Isso pode causar uma série de impactos ambientais.”
Há dúvidas sobre a influência da obra no lençol freático
Interferência
Outra preocupação dos ambientalistas contrários ao aeródromo é a preservação de aves do Parque da Serra da Baitaca. Esteves alerta que a localização da pista está na rota de aves como a baitaca (Pionus Maximiliani) e a curicaca (Theristicus caudatus). Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, são registradas quatro colisões de animais com aviões por dia no Brasil.
De acordo com o Decreto nº 1.753/96, a APA do Iraí protege os recursos naturais da região, em especial a quantidade e qualidade da água para fins de abastecimento público da bacia hidrográfica do rio Iraí.
Outro decreto, publicado em 2000, vedou a implantação, nas proximidades de áreas de preservação ambiental, de atividades consideradas perigosas, poluentes ou perturbadoras, como as que produzem ruídos, trepidações e poeira.
Bonacin II terá 1,2 mil metros de extensão
A Agência Nacional de Avia­­ção Civil (Anac) não tem registros do Bonacin I, aeródromo particular que existe há mais de oito anos, segundo os proprietários. Mas a nova pista, chamada de Bonacin II, já tem registro no órgão federal.
O empresário Francisco Simeão assegura que o aeródromo anterior está regular. “Aquela pista de pouso privada está homologada pela Anac há mais de oito anos. Ela só está sendo remodelada porque a Copel passou um cabeamento de energia próximo a uma das cabeceiras”. O Bonacin II, de acordo com a Anac, terá pista de pousos e decolagens com 1,2 mil metros de extensão e 20 metros de largura.
Políticos veem potencialidades do aeródromo
Apesar de contrariar ambientalistas e alguns moradores da região, o Bonacin II é apoiado pelas prefeituras de Piraquara e Quatro Barras. Segundo as duas administrações, o empreendimento poderá valorizar a região. “Abre uma nova perspectiva para esse tipo de transporte na região metropolitana, que poderá agregar uma série de serviços, como hangares e oficinas e todo esse universo da aeronáutica”, afirma Gabriel Jorge Samaha, prefeito de Piraquara.
Na mesma linha, Ary Andreatta, secretário de Turismo de Quatro Barras acredita que o empreendimento fortalecerá o turismo.
Já Ronaldo Loures Rocha, fundador do Conselho do Parque da Serra da Baitaca e assessor de planejamento de programas estratégicos de Quatro Barras, foi mais incisivo e criticou ambientalistas que tentam vetar o aeródromo. “Considero esse movimento inadequado, inconsequente e que está fundado em uma polêmica menor”, criticou.
Outro lado
Hábitat de aves e lençol freático não são alterados, diz empresário
O empresário Francisco Simeão disse que a obra não afeta o Parque Estadual Serra da Baitaca. “Os movimentos ambientais falam que o aeródromo prejudicará o sono das aves. Não vamos fazer nada diferente do que já era feito lá. A Anac autorizou uma revisão da pista, mudando o ângulo, e é o que estamos fazendo”, disse.
Segundo o empresário, a nova pista é cerca de 300 metros maior do que a anterior e todas as licenças ambientais foram solicitadas previamente. “Tínhamos as autorizações e, no meio da obra, decidimos pavimentar o local, mas antes de começarmos pedimos a licença e agora estamos aguardando o aval do IAP. Se não for autorizado, colocamos grama e a pista estará pronta para uso.”
Simeão negou ainda que as escavações tenham atingido o lençol freático. “Para chegar às águas subterrâneas, tínhamos de escavar uns cinco metros de profundidade e não chegamos nem a meio metro”. Ele descarta que se trate de um aeroporto comercial. “É apenas para amigos e parentes, como já é hoje.”

Créditos
gdp











2 comentários:

  1. Valeu a publicação Ceslau!!!Troféu Pinóquio para os empreendedores, medimos em campo e a pista tem mais de 1600m de comprimento por 30m de largura. Os caras falam que escavaram meio metro, na foto publicada da gazeta tem um caminhão dentro da escavação, será um matchibox???

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    1. É uma pena que algumas coisas passem 'despercebidas' do poder público...
      De qualquer forma, méritos para quem fez a reportagem, que foi publicada aqui e parabéns aos que se deixaram envolver no tema.

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