Curitiba em festa

Pessoas
Dedico esta página a Curitiba
Minha singela homenagem a esta cidade que amo.
Brigo por ela, luto por ela, trabalho por ela, sofro por ela...
Começo a postagem com um belo texto extraído do perfil de uma grande amiga, Juliana, e que tem como autora Jana Santos.

""Desde que moro aqui, aprendi a chamar Curitiba não de minha cidade, mas apenas MINHA. Curitiba não é só o lugar onde eu moro, mas é tudo que eu sou, é a blusinha meia-estação, mas é também o casaquinho de inverno "porque vai que esfriaaa" e o guarda-chuva e os óculos de sol que levo tudo junto e misturado na minha bolsa.
Curitiba é meu sotaque, é o "daí", é o meu "capasssssssss", é o meu "leiteeee quenteeee". Ser curitibano é saber que não existem e nunca existiram salsichas, que isso é uma invenção coletiva da humanidade e que existem apenas vinas. Nunca virei em um farol, sempre e tão somente, em um sinaleiro.
Carrego minhas canetas no penal, porque estojo é só o de maquiagem. Ser curitibano é saber que somos feitos de todas essas pequenas idiossincrasias.
Curitiba não é a europa brasileira, não é a cidade mais evoluída do mundo, nem a mais limpa, nem a mais ecológica, mas no nosso coração, ela é a nossa Paris, a nossa Viena, a Veneza do sul do Brasil.
Curitiba é o lugar onde sorri, chorei, onde amei, odiei e tão intenso e bipolar quanto o clima, somos todos nós. Nossos amores são quentão e pinhão em junho, são algodão doce da Rua XV em Janeiro.
Ser curitibano é sentir que cada um de nós é representado de alguma forma nas calçadas do petit pavé, como se fossemos cada um um pedacinho de concreto formando os desenhos das calçadas da nossa cidade.
Curitiba, eu te amo""
Jana Santos

Como as pessoas percebem Curitiba?

Trezentos e dezenove anos, 434 quilômetros quadrados, 75 bairros com quase um 1,8 milhão de habitantes. A maior cidade do Sul do Brasil tem diversos monumentos históricos e modernos de onde é possível vê-la em variados ângulos. Cada pessoa tem um ponto de vista diferente, de acordo com a profissão, características pessoais ou com o lugar onde está. É o caso dos cinco personagens que aceitaram nos contar, no especial de Curitiba, sobre como eles enxergam e percebem a capital paranaense.

O geógrafo Ceslau Makovski, da Sanepar, sente orgulho de ver a cidade do Reservatório Cajuru

Privilégio de cenário a partir da caixa d’água
Passar a noite no local de trabalho pode parecer entediante quando falta distração. Para os funcionários do Reservatório Cajuru, entretanto, esse tipo de escala de trabalho rende boas histórias. Isso porque, no local, está a famosa caixa d’água do bairro Alto da XV, um dos pontos de Curitiba com a melhor vista da cidade e da região metropolitana. Incluída no projeto para ser um dos quatro reservatórios de abastecimento de água da capital na metade do século 20, a caixa d’água tem 26 metros de altura. A construção dela foi finalizada na década de 1940.
A vista privilegiada é um prato cheio para o funcionário da Sanepar e geógrafo Ceslau Elias Makovski, 42 anos. Há 17 anos ele trabalha no local e não esconde a paixão profissional e pessoal de subir no alto da caixa d’água e admirar a vista, em especial o contraste que ela pode causar. “De um lado (vista de Pinhais) vemos a Serra do Mar preservada e, do outro (Centro de Curitiba), um paredão de concreto. Em minhas aulas, quando eu podia trazer os alunos aqui, mostrava os pontos da cidade e explicava por que ela foi construída dessa maneira”, comenta.
Urbanismo
Makovski se refere ao pla­­­­no urbanístico da cidade, o Plano Agache, idealizado pe­­­­lo arquiteto e urbanista francês Alfredo Agache. Executado no início da década de 1940, o projeto orientou o poder público até 1958 e deixou marcas visíveis. A construção de grandes edifícios na cidade segue, até hoje, parte dos moldes do plano, com prédios em torno das principais avenidas que ligam o Centro aos bairros, como a República Argentina e João Gualberto.
Filmagens
Com quase duas décadas de trabalho no local, Makovski já viu novela ser filmada nos arredores da caixa d’água, acidentes de trânsito e confusões, em especial no réveillon. O lugar fica lotado de pessoas que conseguem subir lá, no dia 31 de dezembro, à espera da virada do ano. Essas pessoas são privilegiadas, pois só sobem a convite. “Alguns até tentam entrar no terreno do reservatório para ir à caixa d’água e ver os fogos”, conta. Por questão de segurança, o local não é aberto à visitação e os funcionários impedem as pessoas de atravessarem o portão. “A vista é só nossa”, brinca.

A capital descrita por quem não pode vê-la
Luzia apresenta Curitiba a partir do que ela consegue sentir. Elogia parques como o Barigui, mas critica o descaso com a região do Guadalupe
O nome dela é Luzia da Luz Silveira, 43 anos. Ela nasceu em 8 de setembro, dia da padroeira de Curitiba, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Apesar das referências à luz, ela já não pode ver a claridade desde os 7 anos. Vítima de um glaucoma, Luzia perdeu a visão ainda criança, o que a fez adaptar seu modo de ver. Através dos outros sentidos, ela consegue descrever a capital paranaense tão bem quanto se tivesse os olhos perfeitos.

Cega desde os 7 anos, Luzia consegue sentir o que é bom e ruim na cidade
Luzia relata com precisão os locais que mais gosta (e até aqueles que não gosta) na cidade onde vive desde os 2 anos. Ela ainda se lembra das cores e formas, o que a ajuda a imaginar, com o auxílio do que as pessoas falam dos locais e com o que percebe pelo cheiro ou som dos ambientes. “Eu sinto o cheiro e escuto até o que não quero”, diz, sorrindo.
Natural de Campo Mou­­­rão, ela abraça as origens do interior e prefere estar perto da natureza. Por isso, elege o Parque Barigui um dos locais mais prazerosos para visitar. “É um lugar que traz muita paz e tranquilidade. Eu gosto do cheiro do mato, se pudesse viveria em um espaço bem rústico”. O parque, inclusive, traz boas recordações para ela. “A primeira vez que conheci o lugar foi logo após a morte do meu marido, em 1998. Uma amiga me convidou para passear. Nesse dia me senti bem porque fiquei mais próxima dela, pois estávamos afastadas, e sentamos embaixo de uma árvore, com meu filho no colo, que tinha 6 meses.”
Durante a entrevista, ela comentou que tinha interes­­­se em conhecer o Jardim Bo­­­tânico. A equipe a levou para o local, onde os dois filhos a ajudaram na percepção da paisagem, descrevendo as árvores, canteiros de flores e chafarizes. “É desse tipo de lugar que eu gosto”, comenta.
Os sentidos aguçados a ajudam a perceber até as imperfeições da cidade, não só das calçadas esburacadas que ela pode encontrar no caminho. Ela descreve o Terminal do Guadalupe e as ruas próximas, no Centro, como uma das regiões mais abandonadas. “Não aguento o cheiro daquele lugar. Com todo o respeito ao nosso prefeito, parece que a prefeitura esqueceu daquela região.”

Jeitinho especial de admirar o que é nosso
Um motorista de ônibus poderia apenas reclamar do veículo lotado e da dificuldade em cumprir sempre o mesmo trajeto. Mas Márcio José Joff vê o trabalho – de repetir o caminho do ônibus várias vezes ao dia – como uma chance de conhecer Curitiba. Assim como ele, o ciclista Rosemburg Lopes Junior aproveita para admirar a cidade enquanto pedala de casa ao trabalho. Já a gerente comercial Laurita Utrabo tem o privilégio de ver a capital de um ângulo que poucos enxergam: do prédio mais alto.
No comando do maior biarticulado
É por trás do para-brisa que o motorista de ônibus Márcio José Joff, 43 anos, conta como percebe a cidade de modo tão diferente. Ele faz uma das linhas mais longas do transporte coletivo, a Centenário – Campo Comprido. Em cada viagem, passa por 12 bairros e encontra cerca de 205 mil passageiros ao dia. Apesar de o cargo exigir concentração, para ele as idas e vindas são uma boa oportunidade para conhecer lugares distintos. “Como é uma linha grande, aqui eu encontro pessoas de todos os tipos, executivos, médicos, estudantes e os mais humildes”, comenta, a bordo do maior ônibus do mundo, o biarticulado de 28 metros.
As palavras de Joff não são mera impressão. Os contrastes são evidentes: o motorista vê da janela do ônibus os edifícios luxuosos do Mossunguê, mas também as casas e prédios mais simples do Centenário. Essa é a linha, na visão de Joff, que passa pelos pontos mais bonitos da cidade: ele destaca a arborização do Bigorrilho e da região da rodoferroviária.
E quem pensa que turista quer conhecer só pontos de destaque, que não se engane. “A Curitiba é também a dos expressos. Muita gente me pergunta sobre como funciona o ônibus”, diz. Joff só riscaria da cidade os dias de jogo que tumultuam o transporte em decorrência do confronto entre as torcidas.
O motorista Joff aprecia a arborização do Mossunguê e da região da rodoferroviária

Do ponto mais alto, uma visão de tirar o fôlego
Ter diariamente a capital do estado literalmente sob os pés é para poucos. A gerente comercial Laurita Utrabo, 47 anos, faz parte dessa minoria. Ela trabalha há seis anos no trigésimo andar do maior edifício da capital paranaense, o Curitiba Trade Center, localizado na Alameda Dr. Carlos de Carvalho, no Cen­­­tro da cidade, e tem uma das vistas mais abrangentes do município.
Com 147 metros de altura, o prédio tem 34 andares e foi entregue em 1997. Laurita se diz privilegiada por estar no local. Ela e seus companheiros de trabalho podem ver, em diversos pavimentos, diferentes locais de Curitiba. É possível, inclusive, avistar o primeiro arranha-céu, o edifício Garcez, com oito andares.
A empresa em que Laurita trabalha atua na área de investimentos financeiros. Em 2008, no auge da crise financeira dos Estados Unidos, a Bolsa de Valores de São Paulo teve momentos de instabilidade, o que tornou difícil o trabalho no escritório. As horas de dor de cabeça, entretanto, acabavam quando ela olhava para a janela. “Decidimos parar e ver um pôr-do-sol maravilhoso lá fora. Nessa hora pensamos: Deus existe”, conta.
Os dias de chuva no alto do edifício também podem render histórias interessantes para quem não está acostumado com as alturas. “Como o prédio é muito alto, ele balança um pouco em dias com chuva e vento forte e podemos sentir isso até nos materiais de escritório em cima da mesa, que se mexem”, diz ela, que também é arquiteta e explica essa situação para quem se assusta com o balanço do edifício.
Ostentando o posto de prédio mais alto da capital há 15 anos, o Curitiba Trade Center deve ficar com o segundo lugar no ranking. A duas quadras do local, entre as ruas Visconde do Rio Branco e Comendador Araújo, a cidade deve ganhar o Universe Life Square, que terá 152 metros de altura e 44 pavimentos. A previsão de entrega do empreendimento é para o segundo semestre de 2014.
Laurita admira a cidade debaixo dos próprios pés

Sobre duas rodas dá pra sentir melhor a cidade
Pedalar de casa até o trabalho faz parte da rotina de alguns curitibanos que, dessa forma, podem curtir a cidade de uma maneira diferente do que no comando de um veículo motorizado. É o caso do coordenador de teleatendimento Rosemburg Lopes Junior, conhecido como Burg, 50 anos.
Desde 1993, Burg sai com a magrela do bairro Portão, onde mora, e passa por mais quatro bairros até chegar à Cidade Industrial de Curitiba (CIC Norte). No trajeto, de 20 quilômetros por dia (ida e volta), uma das vantagens de pedalar é mudar com facilidade o percurso para admirar a cidade de diferentes ângulos. Durante a semana, Burg percorre três caminhos diferentes. Para ele, uma das melhores vistas, no retorno para casa, fica próxima ao Hospital Pequeno Cotolengo. “Em dias de céu limpo, com o pôr-do-sol, podemos ver uma cidade dourada.”
Problemas
Mas nem tudo é beleza nos trajetos que ele faz. Apesar de boa parte do trecho que Brug percorre ter ciclovias, algumas delas são mal conservadas e não têm sinalização adequada. “Durante o trajeto, encontro mais obstáculos do que facilidades”, comenta. Ele acredita que a cidade tem espaço suficiente para atender tanto os ciclistas como os motoristas, mas muitos trechos são mal aproveitados.
Curitiba tem malha cicloviária de 120 quilômetros de extensão. Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), a intenção, a médio e longo prazo, é aumentar em 300 quilômetros a malha, além da revitalização dos trechos já existentes.
Burg prefere pedalar para conhecer melhor os lugares, enquanto faz o trajeto de casa ao trabalho

Eles celebram a cidade todos os dias
Há curitibanos que comemoram o aniversário da capital diariamente, seja com uma música ou com um blog que fale dela
Em seu livro Alice através do Espelho, o britânico Lewis Carroll inventou o termo desa­­niversário para mostrar que não é preciso esperar um determinado dia do ano para celebrar um evento especial. A ideia parece ter inspirado o engenheiro de telecomunicações Washington Cesar Takeuchi, 46 anos, que desde 2009 registra quase diariamente o cotidiano da cidade em seu blog, Circulando por Curitiba. Tudo começou quando ele planejava via­­­jar para Nova Iorque e, pesquisando as atrações de Manhattan, descobriu uma comunidade de blogueiros dedicada a postar uma foto e um texto por dia sobre a cidade onde moravam. “Decidi integrar o coletivo e fiz um blog chamado Curitiba Portraits, mas dava trabalho traduzir todos os textos para o inglês e ainda manter sua versão em português, o Circulando por Curitiba. Como a maioria dos visitantes era daqui mesmo, acabei encerrando o primeiro blog. Hoje, o Circulando recebe cerca de mil visitas diárias”, conta.
Munido de uma câmera fo­­­­tográfica que nunca desliga, ele já clicou as 51 árvores imunes de corte na cidade, os 100 bens tombados pelo Patrimônio Cultural, as obras de Poty Lazzarotto e outros temas locais. Em uma das postagens mais curiosas, de março do ano passado, Takeuchi comprou uma réplica do boneco Laurentino – aquele que, antigamente, ficava balançando ao vento na Praça das Nações, no Cristo Rei – e clicou o personagem em diferentes pontos da cidade, mais ou menos como o gnomo do filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulain. Houve ainda o caso de um leitor que, tendo passado a infância em Curitiba, pediu que Washington fotografasse seu velho endereço para poder matar a saudade. “Fui lá e cliquei a casa onde ele morou nas Mercês, depois postei a foto no blog. Ele ficou emocionado”, conta. Quando comentou a polêmica demolição da antiga fábrica da Matte Leão, no Rebouças, seus leitores lotaram a caixa de comentários do blog e Washington decidiu escrever para cada um dos vereadores da cidade, questionando-os sobre a lei de tombamento municipal. Resultado: o blogueiro foi recebido pelo candidato a prefeito Gustavo Fruet. A vereadora Julieta Reis também se mostrou interessada em ajudar.
No blog Circulando por Curitiba, Washington Takeuchi fala do seu cotidiano na cidade que o adotou
Origem
Natural de Mandaguari, no norte do estado, Wa­­­shington Takeuchi conta que sua paixão por Curitiba começou ainda na infância, quando visitava as irmãs que moravam na capital. “Fiquei encantado com o contraste entre uma cidade pequena como a minha e uma metrópole como Curitiba. Andar de elevador, ver os prédios, até mesmo comer pizza era novidade para mim”, recorda.
Curitiba cantada em versos e prosa
Tomando emprestados os versos do poeta Marcos Pra­­­do, a banda Maxixe Machine já disse que Curitiba é “a úni­­­ca droga” que admitiria na vida. Mas talvez nenhum grupo musical tenha leva­­­do o bairrismo tão a sério quanto Lívia e os Piá de Prédio. Criado em 2007 e com dois discos gravados, o grupo – formado apenas por curitibanos – já musicou a Revolução Federalista, a neve de 1975 e outros episódios marcantes da cultura local, como a passagem do Zeppelin por Curitiba em 1936. Na canção Submundo Autofágico, ironizam a busca pelo sucesso de bandas locais, cujo sonho é sair na capa do Caderno G e no Paraná TV. “Tenho uma lista gigante de coisas que me chamam atenção e sobre as quais ainda quero escrever. Ano passado finalmente consegui compor uma música que falasse sobre usar o uniforme em cima do pijama nas manhãs de inverno”, conta a vocalista e compositora da banda, Lívia Lakomy. Mesmo sem os piás de prédio – que cresceram e agora precisam se dedicar aos seus empregos e famílias –, Lívia continua fiel ao exercício de olhar seu mundo com bom humor, seja em carreira solo ou com outros parceiros musicais. Para cantar a Curitiba de 2012, ela revela que já tem duas letras prontas, uma delas intitulada Mobilidade. “Vou falar sobre a questão das ciclovias, engarrafamentos e má educação no trânsito. É talvez a música menos bem-humorada que já fiz”, admite. 
A “guria de prédio” Lívia Lakomy compõe e canta músicas irreverentes sobre Curitiba
Outra visão
O escritor, cronista e cartunista Dante Mendonça costuma dizer que uma das qualidades da nossa capital é ter sido construída “do zero” e, ainda assim, ser tão bonita. “Curitiba é uma moça com botox, até nossas belezas naturais são artificiais, como os parques e o Jardim Botânico. Mas, ao contrário do Rio de Janeiro ou de Florianópolis, onde Deus foi generoso, podemos encher o peito e dizer que foi o curitibano quem mudou sua cidade para melhor”, elogia.
Curitibanos que não são daqui
Mais da metade da população de Curitiba nasceu em outras cidades. Nem por isso essas pessoas são menos apaixonadas por ela
Quando o engenheiro de telecomunicações e blogueiro Washington Takeuchi se mudou para Curitiba, os empresários João Frumento e Lincoln Sampaio já estavam morando aqui. Nascidos respectivamente em Paranaguá e Nova Esperança, os dois se tornaram amigos na capital e, da amizade que já leva três décadas, surgiu a Pastéis de Curi­­­tiba, rede de pastelaria temática inaugurada em setembro do ano passado na esquina da Ermelino de Leão com a Cândido Lopes. No lo­­­­­cal, tudo remete à cidade, desde as opções do cardápio até a decoração. Fotografias em preto e branco, miniaturas dos ônibus biarticulados e livros sobre Curitiba dividem o espaço com placas de rua em tamanho original, sinalizando pontos conhecidos como a Rua da Cidadania e a Biblioteca Pública. “A ideia é fazer dessa esquina um lugar para ouvir e contar histórias de Curitiba. Estamos preparando uma parede dedicada às celebridades locais e, em breve, serviremos o pastel Curitiba, que levará ingredientes típicos como o pinhão”, revela a dupla. Para acompanhar a iguaria, nada melhor que uma gasosa Cini, tradicional da cidade há mais de 100 anos, ou um café (frise-se Damasco) coado e servido no copo martelinho.
O desejo de abrir a pastelaria surgiu quando Lincoln provou a famosa sobremesa portuguesa durante uma viagem àquele país. “Se lá existem pastéis de Belém, por que não criarmos aqui os pastéis de Curitiba?”, questionou o empresário. A ideia agradou ao amigo.
Frumento e Sampaio na pastelaria que homenageia a capital
Os de fora
Entre os curitibanos que não nasceram em Curitiba, além de João, Lincoln, Wa­­­shington e mais da metade da população, está o cronista e escritor Dante Mendonça. O catarinense de Nova Trento chegou aqui aos 18 anos para servir o exército. “Em 1970, a capital vivia uma grande transformação urbanística e cultural, com a inauguração do Teatro Paiol e do Guairão. Eu era jovem e minha vida mudou em uma cidade que também estava mudando”, lembra o autor do livro Curitiba, melhores defeitos, piores qualidades. Ocupante da cadeira número 01 da Academia Paranaense de Letras, Dante tem mais seis títulos dedicados a especular a terra dos pinheirais e seus habitantes, entre eles dois volumes de piadas: um para sacanear atleticanos e, outro, coxas-brancas. Fundador da Banda Polaca, um dos blocos carnavalescos mais famosos da cidade, ele sonha em escrever um dicionário afetivo de Curitiba. “Só vão ter verbetes que representam nossas raízes, como a Churrascaria do Erwin e a Casa Edith”, promete.
Entusiasta de Curitiba e do jeito de ser do curitibano, Dante Mendonça já escreveu sete livros sobre o tema
Histórias para não esquecer
Não é de se estranhar que um viajante inglês, do início do século 19, ao avistar Curitiba, tenha dito que ela se parecia a um acampamento prestes a levantar. Era tão provinciana e sem infraestrutura que as casas, todas brancas pintadas com cal, se assemelhavam ao longe a barracas. Da vila empobrecida à cidade que ganhou o título de modelo, há histórias que não devem ser esquecidas.
Dessa Curitiba colonial, é de se imaginar o que aconteceu quando apareceu no céu o primeiro objeto mais leve que o ar, chamado de dirigível ou balão. “O discurso era, na época, de que se tratava de um ato de coragem inconcebível, até porque, o mais alto que as pessoas iam era ao topo de uma montanha. Foi revolucionário para o modo de pensar da população provinciana”, afirma o historiador Vidal Antonio de Azevedo Costa. Pelas habilidades do aeronauta mexicano Theodulo Ceballos, um saltimbanco que percorria a América Latina, a população viu o primeiro balão subindo, em 1876, com direito a acrobacias de Ceballos no ar. “Os textos de jornais da época são verdadeiros hinos de louvor a essa coragem inaudita. É um encantamento com a capacidade do homem de alcançar o infinito”, explica Vidal.
O segundo que apareceu, já no início do século 20, ganhou fama e ao mesmo tempo repúdio. Primeiro porque ficou enroscado no lanternim da catedral, uma verdadeira vergonha para a população que não acreditava no que via; segundo porque o que a acrobata Maria Aida fazia não era mais novidade e os curitibanos, que não se sentiam tão provincianos assim, passaram a ser exigentes com esses tipos de espetáculo. “O discurso muda. Os jornais falam ironicamente que uma boa aeronauta não poderia colocar a culpa no tempo ruim. A população se considera digna de algo melhor”, conta Vidal. O reencantamento aos dirigíveis foi inevitável, porém, no dia em que o Zeppelin Hinderburg passou rapidamente pelo céu de Curitiba. Com 245 metros de comprimento (apenas 24 metros menor que o navio Titanic), ele conseguiu seduzir a população outra vez, que ficou paralisada diante do que via. “O dirigível passou rapidamente por Curitiba, em 30 minutos, até porque, deste tamanho, não tinha onde pousar. Mas a admiração foi extrema, o que não tardou para que notícias falsas fossem criadas a respeito”, diz Vidal. Um senhor teria dado um depoimento de como o Zeppelin teria pousado no aeroporto do Bacacheri (o que seria impossível), assim como muitas fotos foram montadas com o Zeppelin no céu, em lugares por onde ele não passou. Uma das mais famosas é do Hinderburg sobrevoando o prédio Garcez.
Cavalaria
Voltando um século, ainda no período imperial, entre os anos de 1765 e 1777, Curitiba registra outro dado histórico curioso: cria sua primeira companhia de cavalaria, já que o rei de Portugal, D. Afonso VI, não dispunha – e não tinha interesse – em gastar dinheiro com isso no Brasil. “É a origem do que hoje chamamos de milícia armada. Para defender o território português dos ataques de ingleses e holandeses, o rei de Portugal convoca moradores a cuidar da segurança”, afirma o pesquisador Edson Moisés Pagani. Esses homens – verdadeiros súditos fiéis ao rei – se armaram e compraram cavalos por conta própria, por isso tinham de ter cacife financeiro. “Nem todo mundo, neste período, poderia ter cavalo e espada e aqueles que tinham eram considerados nobres. Então, além de serem bem vistos pelo rei, eram prestigiados pela sociedade”, diz Pagani. A companhia de cavalaria criada em Curitiba nunca participou de um combate, por isso teve outro papel: ajudou a expandir as delimitações geográficas da cidade, porque esses cavaleiros viraram verdadeiros exploradores dos “sertões”, nesse caso, dos Campos Gerais.

Urbanismo
Plano Agache previa prédios neoclássicos
O historiador Denisson de Oliveira começa a entrevista com a pergunta: por que Curitiba não colocou em prática o que previa o Plano Agache? Trata-se, pois, de uma provocação. Ele lembra que o Centro Cívico deveria ter, segundo o francês Agache, construções de influência neoclássica e barroca. A questão é que no meio do caminho veio o modernismo e o projeto original foi, em grande parte, abandonado. "O problema é que não se alterou somente o estilo arquitetônico, mas de outras boas ideias", afirma Denisson.
Não era para existir uma rua no Centro Cívico, até porque ali deveria ser um espaço de manifestações populares. Estava prevista também a existência de um parlatório onde o governador discursaria para a população. "Era a ideia de democracia. Infelizmente a concepção do que seria a cidade se perdeu com o passar dos anos", diz. O único quesito do Plano Agache que foi respeitado foi um zoneamento urbano que dava funções aos espaços da cidade. Curitiba criou, a partir disso, o Rebouças como área industrial, o Bacacheri como área militar, o Politécnico como setor universitário e assim por diante. "E isso só foi respeitado até os anos 60", aponta.
Denisson lamenta que Curitiba tenha hoje prédios colados um ao lado do outro, visto que no plano de Agache as quadras deveriam ter até três prédios com no máximo dez andares, de modo que nenhum deles fizesse sombra ao vizinho.
Biblioteca
Leia mais sobre o assunto nos livros da editora UFPR, intitulados Curitiba e o mito da cidade modelo e Urbanização e industrialização no Paraná.

Educação
Escola para a alfabetização dos presos
Preocupados com a regeneração dos presos da cadeia de Curitiba, que ficava entre o Largo da Matriz e do Mercado, o chefe de polícia e juiz Luiz Barreto Correia de Menezes resolveu instalar a primeira escola primária para presos da cidade, em 1879, porque acreditava que o lugar deveria reencaminhar as pessoas para uma vida normal, e não profissionalizá-las ao crime. Quem conta esse episódio é o historiador Valter Martins, que pesquisou o assunto e publicou um artigo intitulado A escola do sol quadrado.
A capacidade da cadeia era para 60 presos. Depois da reforma do local, uma das celas virou sala de aula. "O chefe desejava instalar na cadeia um caminho para o trabalho, com oficinas; e outro para a educação, para que os presos não vivessem na ignorância", afirma o historiador. A inciativa foi inédita no Paraná, mas já existia em outras províncias. E, apesar de o analfabetismo ser visto como atraso intelectual, as mulheres não tiveram direito de acesso à escola na cadeia.

Reconhecendo o território
Quinze anos depois de percorrer todas as ruas da cidade, o urbenauta Eduardo Fenianos quer descobrir agora quem é a Curitiba do século 21
Eduardo Fenianos, o urbenauta: idealismo e paixão por aventura o levaram a desvendar a cidade onde mora
Poucos – na verdade, talvez ninguém – podem se orgulhar de conhecer Curitiba tanto como o jornalista Eduar­­­­do Fenianos. Em 1997, depois de lançar uma série de livros contando a história dos 75 bairros da cidade que o viu nascer, ele empreendeu uma viagem inédita: circular por todas as ruas de Curitiba durante 100 dias, dormindo (pousando, para usar um termo local) na casa de quem aceitasse recebê-lo. Agora, 15 anos depois da aventura que o consagrou o primeiro urbenauta do planeta, ele pretende repetir o trajeto, pelo menos em parte. “Quero organizar uma miniexpedição comemorativa para descobrir quem é essa Curitiba do século 21, fazer novos registros em foto e vídeo. Será uma forma de voltar a me achar na cidade depois de tanto tempo, de dar asas às minhas raízes”, conta o viajante. Nos últimos anos, Eduardo quase não dormiu na casa dele, no Alto da XV, ocupado em viajar todas as capitais brasileiras – experiência que rendeu dezenas de livros e filmes, uma novela no Twitter e um romance em fase de finalização. “Curitiba cresceu e mudou muito. Ainda estou meio perdido aqui, mas me recuso a usar GPS na minha cidade”, brinca.
Preocupação
Fiel ao ditado do filósofo Lao Tsé, “antes de mudar o mundo, dê três voltas ao redor da sua própria casa”, Fenianos anda preocupado com o que chama de “sãopaulinização” de Curitiba e cobra do poder público mais atenção às questões ambientais e urbanas. E se o prefeito aceitasse viajar como copiloto da urbenave de Fenianos? Para ele, não seria má ideia navegar por todos os rios da região e cruzar os pontos extremos da cidade, pois é durante o trajeto entre eles que a diversidade se revela. Mas, o mais importante, seriam as paradas para dormir. “Entrar na casa de uma pessoa é entrar em sua vida. E, este mergulho antropológico, sociológico e simbólico é uma forma de ver a cidade em todos os sentidos.”
"Como definir o curitibano? Qual deles?  O do Batel, Caximba ou Vila Fanny? Há muitas cidades dentro de Curitiba. Só depois de passar um tempo fora dela é que você começa a entendê-la melhor."
Eduardo Fenianos, jornalista e viajante urbano
"Ainda somos modelo ao mundo"
Clóvis Milton Lunardi, engenheiro civil e morador de Curitiba há seis décadas
Metade da população de Curitiba é formada por pessoas como o engenheiro civil Clóvis Milton Lunardi: ele nasceu em outro lugar, mas adotou a cidade por opção. Diz que veio passar uma temporada, mas gostou tanto que ficou. O olhar de Lunardi sobre a capital paranaense é o melhor possível: entusiasta, ele evita falar dos problemas. “Para mim, ainda somos modelo ao mundo. Curitiba foi pioneira em muita coisa e pode estar atrasada em algo, como na questão do metrô, mas ainda assim é precursora”, diz. Clóvis não só viu da janela do apartamento – na Saldanha Marinho –o crescimento vertical de Curitiba, como também ajudou a levantar prédios e fazer valetas para a tubulação do esgoto. “Quando entrei para o Departamento de Obras da prefeitura, tinha 40 ruas para cuidar. Asfaltamos algumas e a população comemorou. Mas, depois do expediente, eu ia tomar conta de muitas outras”, comenta. Ele montou um grupo com outros estudantes de engenharia, lá pela década de 60, para fazer o que qualquer cidade precisa: esgotamento sanitário. Com o auxílio dos moradores, Lunardi indicava onde as valetas deveriam ser abertas e, depois, inventaram um processo em que cada morador poderia fazer seu próprio tubo de esgoto. “O esgoto corria solto pelas ruas, era triste de ver. A população, na época, não tinha tanto emprego, por isso ficava mais em casa. Foi assim que conseguimos ajudar a urbanizar a cidade. Com a ajuda do povo”, diz. Lunardi calcula que cerca de 20 quilômetros de concreto para esgoto, que existem até hoje, foram feitos dessa maneira. Na época, nos cálculos do engenheiro, existiam aproximadamente 200 favelas. “Muita gente chegava a Curitiba e não queria mais ir embora.” Em entrevista a Gazeta do Povo, o engenheiro fala um pouco mais das percepções dele sobre a cidade.
O senhor não gosta de falar mal da cidade que o acolheu tão bem. Existe, contudo, alguma história que lhe deixou indignado?
Consigo me lembrar de apenas uma que me deixou intrigado. Quando começamos a asfaltar as ruas e a colocar paralelepípedos em outras, nos anos 60, também iniciamos a plantação de árvores e flores. A população, porém, odiou. A árvore anoitecia plantada e acordava arrancada ou toda quebrada. Ficava me perguntando, por que não gostam de arborização? Foi difícil. Tivemos de fazer uma campanha de conscientização. Mandamos cartas aos proprietários dizendo que eles deveriam ajudar a cuidar das árvores que estavam na frente da casa deles. Deu certo.
Além de ensinar a população a fazer valetas para esgoto sanitário, o senhor participou de outros projetos da cidade?
Sim, como disse, a população ajudava a construir Curitiba, até porque tinha mais tempo e todos queriam melhorar o lugar onde moravam. Também ajudei a construir pontes com trilhos de ferro antigo. Fiz umas 18 pontes com a ajuda da população. Os homens jogavam pedras nos buracos de sustentação das pontes e depois o concreto, era uma beleza. Íamos até tarde, ligava a luz do carro para conseguir trabalhar, porque nem todas as ruas eram iluminadas. A população participava e, quem não podia, me dava justificativas como se fosse um empregado. Havia comprometimento.
Nunca encontrou resis­­­­tências da população?
Certa vez, na Vila Torres, eles queriam fazer valetas em uma das ruas para esconder o esgoto. Mas não sabiam como deveriam agir. Nos contataram. A questão é que havia uma rixa entre o grupo dos anticristãos e dos católicos. Falei: só faremos se os dois grupos trabalharem juntos. Eles esqueceram as intrigas e abraçaram a causa. E, depois, cuidaram do que foi feito. É a velha história de que quem faz cuida e não deixa o outro estragar.
Se o senhor fosse prefeito, o que faria por Curitiba?
Cuidaria mais do tráfego, arranjando meios de facilitar a vida das pessoas que pegam ônibus. Não dá para deixar os ônibus lotados, a população sofre e, quem pode, acaba optando pelo carro. Defendo a instalação do metrô pela superfície. Temos bastante espaço para fazer metrô e também para ofertar mais ônibus à população. O problema é que o Centro está crescendo muito, estão liberando a construção de muitos prédios e shoppings nessa região e isso não me agrada.
Por quê?
Grandes empreendimentos no Centro trazem aglomeração de muitas pessoas em um só lugar. Não dá certo. Não há estacionamento para todo mundo, até porque Curitiba não tem prédios de estacionamentos. E isso não seria necessário. Digo que Curitiba é Centro em quase toda a sua extensão.
Como assim?
Com a criação dos binários e trinários, a prefeitura possibilitou a construção de grandes edifícios no entorno dessas vias. Quero chamar a aten­­­ção para os prédios que podem ocupar a integralidade das divisas do terreno no térreo e primeiro andar. Isso deu espaço para o comércio. Então, temos bancos, lojas e tantos outros estabelecimentos ao redor dessas vias. Isso é um Centro que se expande por toda a cidade. Digo que é a pedra de Tókio.
Há outra política que o senhor elogiaria?
Em 1972, a prefeitura criou uma política inteligente. Comprava o lixo da população. Onde o caminhão não conseguia chegar, eles davam livros, cadernos e outras coisas em troca do lixo que a população deveria levar até o caminhão. Foi assim também que se criou a conscientização de que lixo não deveria ser jogado na rua.
Tem algum lugar de Curitiba que o senhor vai sempre?
Santa Felicidade. Adoro aquele bairro. Comecei a frequentar em uma época que nem restaurantes tinha, só havia botecos que vendiam um frango para comer. Ia com minha namorada. Hoje vou sempre.
Curitiba está “dormindo no ponto”?
Está bobeando na questão do turismo. Poderia receber muito mais dinheiro com isso. E não só Curitiba. Olha nossas praias, são tantos balneários e tanta coisa a ser explorada.
O que o senhor acha do dito “perfil curitibano”?
Quando cheguei aqui achava a população muito introspectiva. Mas veja, existiam cerca de 260 mil habitantes. Só havia homens pelas ruas e as mulheres, quando apareciam, sempre estavam acompanhadas. As famílias eram bem fechadas e tive dificuldade para fazer amizades. Era uma cidade introspectiva e muito provinciana. Acho que é por isso esse ranço de que curitibano é fechado. Acredito que essa questão, porém, já mudou há muito tempo. Hoje as pessoas não são mais assim. Além disso, tem muita gente que mora aqui que nem é curitibano, mas é como se fosse.

Lendas curitibanas
Apresentamos sete lendas de Curitiba e convidamos você a contar outras diferentes
A loira fantasma
A história era muito narrada nos anos 1970. Diz que Lurdes, loira e muito bonita, morava em Curitiba e, certa vez, resolveu sair tarde da noite, por isso decidiu pegar um táxi.
O problema é que o taxista era psicopata tarado e decidiu levar a loira para o matagal. Estuprou e matou a moça. O que ele não sabia, contudo, é que a loira pertencia a uma seita de magia. Então, o espírito da loira começou a rondar pela cidade. Uma noite, uma mulher de capa preta pediu ao mesmo taxista para parar. Ela entrou no carro com o rosto coberto e solicitou a ele para se dirigir ao Cemitério Municipal. Ao chegar lá, ela teria dito: “pode me deixar aqui, minha morada é um túmulo decente. Mas, gostaria que fosse diferente.” O taxista, sem entender, reconheceu a moça quando ela mostrou o rosto. Ele teve um ataque de asma, que o matou asfixiado.
Dizem que a loira continuou assombrando vários taxistas da cidade.
O pirata do bairro Mercês
Em 1840, um misterioso inglês veio morar em Curitiba, no bairro chamado Sítio do Mato, hoje Mercês. O nome dele era Zulmiro e tinha perna-de-pau e dentes de vampiro. Ele teria cometido maldades na Inglaterra, por isso veio para cá. Dizem que ele tinha um mapa de um tesouro que ele escondeu nos subterrâneos das Mercês. Ele morreu, mas a crença é de que o fantasma do pirata aparece até hoje, toda sexta-feira em noite de lua cheia, na calada da noite. O tesouro e o mapa nunca foram encontrados.
Maria Bueno, a santa
Ela era de Morretes. Por ter sido a sétima filha a nascer, na crença popular, dizem, teria poderes paranormais. Quando jovem, Maria Bueno decidiu entrar para o convento, mas foi expulsa. Mandaram-a, então, a Curitiba para cuidar de um casal de idosos. Só que os velhinhos morreram e Maria teve de trabalhar de lavadeira. O dinheiro, porém, não dava para comprar muita coisa, por isso ela decidiu ganhar a vida num bordel. Um soldado se apaixonou por ela e a proibiu de trabalhar ali, mas ela não aceitou. Acabou morta de forma cruel (degolada). O soldado, depois, também fora degolado, por Gumercindo Saraiva. Hoje Maria é tida como a santa do povo e está enterrada no Cemitério Municipal.


Na mansão do Batel

Em 1950, uma mulher muito bonita pegou um táxi para percorrer vários lugares da cidade. Depois, ordenou ao taxista que se dirigisse para uma mansão no Batel. Ela entrou na casa e pediu que o motorista esperasse do lado de fora, pois havia esquecido a carteira e iria pegá-la. O taxista, enquanto esperava, notou uma movimentação dentro da mansão. Aguardou meia hora e, em seguida, resolveu procurar a mulher. Bateu na porta e ninguém atendeu. Entrou na casa e notou que havia muitas pessoas em um velório. O motorista ficou procurando a cliente entre as pessoas que estavam ali. Ele aproveitou e deu uma olhada no caixão. O defunto era a mesma mulher que, pouco tempo antes, estava dentro do táxi.


Capa preta

Um homem dançou a noite inteira com uma morena num baile. Na hora de deixá-la em casa, esqueceu uma capa preta com ela. No dia seguinte, foi buscar o acessório, quando foi recebido pelos pais da garota. Eles informaram que a mulher estava morta há muito tempo e mostraram uma fotografia. Era exatamente a mesma pessoa com quem ele tinha dançado. Não satisfeito, foi acompanhado dos pais da morena até o cemitério onde ela está enterrada, no São Francisco de Paula. A capa preta estava em cima do túmulo.


Fundação de Curitiba

Havia uma imagem de Nossa Senhora da Luz na capela do primeiro vilarejo de Curitiba, a Vilinha, ainda às margens do Rio Atuba. Todas as manhãs, essa imagem se voltada para a mesma direção (não adiantava mudar a santa de posição porque ela se virava para aquele lugar). Interpretando como uma vontade de Nossa Senhora de criar uma cidade naquele lugar, foi feito o contato com o cacique dos índios tingui, o Tindiquera, que ficava no espaço para onde a santa olhava. Este teria colocado uma vara no chão, dizendo "Coré Etuba", que significaria "muito pinhão". Essa vara teria brotado e virado uma frondosa árvore, sendo este o marco zero da cidade de Curitiba.


A grávida da Praça da Ucrânia

Dizem que nas sextas-feiras uma mulher grávida ia passear com o seu marido na feira de comidas da Praça da Ucrânia. Numa noite muito fria, ela chegou em uma barraca e pediu um sanduíche de mortadela. Enquanto esperava o seu lanche, um motoqueiro apareceu e começou a atirar em todos os presentes. Uma das balas atingiu a mulher, que morreu na hora.
Agora, toda sexta-feira, na Praça da Ucrânia, aparece uma grávida muito misteriosa que, como morreu sem comer seu sanduíche, pede para alguém comprar um para ela.
Túmulo de Maria Bueno recebe centenas de visitas todos os anos

Fontes: A casa do contador de Histórias e livros “Lendas e Contos Populares do Paraná” e “Lendas e Tradições do Paraná.”

Pontos para conhecer
No Bosque Gutierrez, o visitante pode apreciar a beleza de uma fonte de água mineral
Bosque Gutierrez
Aberto ao público em 1986, fica em uma área pertencente a uma antiga chácara do advogado João Carlos Gutierrez. Uma das principais atrações é o Memorial Chico Mendes, em homenagem ao líder seringueiro morto em 1988. O visitante também pode apreciar a beleza de uma fonte de água mineral.
Endereço: entre as ruas Albino Raschendorfer e Gaspar Carrilho Jr., bairro Vista Alegre. Aberto de segunda-feira a domingo, em horário ininterrupto. Entrada gratuita.
Parque Lago Azul
Ele já foi uma propriedade particular e destinada ao lazer da família Segalla. Apresenta construções e equipamentos preservados que contam um pouco da história do local: a casa de madeira, antiga sede da propriedade, que hoje é um bistrô, e um moinho de milho. Uma trilha leva ao mirante, no ponto mais alto do parque, com vista para o lago.
Endereço: Rua Colomba Merlin, 476, Umbará, próximo à igreja do Umbará. Horário: de segunda-feira a domingo, das 7 às 19 horas. Entrada gratuita.





Créditos
gdp