sábado, 7 de janeiro de 2012

Edição 96 - Entrevista com Rafael Greca

Pessoas
Outubro vem aí.
Visando contribuir de alguma forma, usarei este espaço de forma democrática para postar as entrevistas com os principais pré-candidatos a prefeito de Curitiba.
Esta é a primeira entrevista, logo virão mais, e terão o mesmo espaço.
Analisem, e escolham bem, a cidade agradece.
Boa leitura

“A obra do metrô vai servir só o empreiteiro”

Quinze anos depois de deixar o Palácio 29 de Março, o ex-prefeito Rafael Greca (PMDB) pretende voltar a governar Curitiba. Apesar das negociações de aliança entre partidos da base governista em Brasília, ele garante que sua decisão de disputar a prefeitura é irrevogável. “A minha candidatura é inegociável. Eu sou o Rafael de Curitiba. Fui prefeito, nunca me vendi e não será nessa ocasião que irei fazê-lo”, afirma.
Greca, que ficou marcado na administração municipal pela criação de parques e dos Faróis do Saber, critica a atual administração pela falta de cuidado com a cidade e diz que pretende fazer uma faxina, caso seja eleito. “Vou fazer uma grande arrumação, como se eu entrasse na minha casa abandonada depois de 15 anos e fosse arrumá-la para eu poder entrar bem nela”, diz.

 O que o senhor não conseguiu fazer enquanto prefeito?

Faltou fazer 50 Faróis do Saber. Eu queria 100 bibliotecas. Na época, a burocracia me tapeou e eu só consegui 50.
E teve algo que o senhor fez e se arrependeu?
Enquanto era prefeito, me arrependi de pouca coisa. Depois, com o correr dos anos, quando meu sucessor [Cassio Taniguchi] começou a terceirizar muito a prefeitura, eu me arrependi de ter puxado os olhinhos para pedir para o povo votar nele.
O senhor foi do grupo do ex-governador Jaime Lerner e depois passou para o PMDB, do ex-governador Roberto Requião. Essa incoerência pode ter trazido prejuízo político?
Dois ex-prefeitos importantes, no caso Lerner, que estruturou um modelo de planejamento, e o prefeito Requião, que deu a Curitiba a dimensão de uma cidade voltada para a política social, os dois me escolheram em momentos diferentes como seu candidato a prefeito. Você não acha que isso é bom? Se eu sirvo tanto para um, quanto para outro, será que não sirvo para Curitiba?
A cúpula do PT nacional estaria trabalhando para ter uma candidatura única da base da presidente Dilma Rousseff nas principais capitais. O senhor estaria disposto a abrir mão de sua candidatura?
Desconheço isso e tenho todo o apoio do PMDB nacional. Não vejo possibilidade de uma imposição dessas. Uma cidade está acima dos interesses de qualquer cúpula.
Mas existe a possibilidade de uma negociação de aliança?
A minha candidatura é inegociável. Eu sou o Rafael de Curitiba. Fui prefeito, nunca me vendi e não será nessa ocasião que irei fazê-lo.
Qual a opinião do senhor sobre o atual projeto do metrô?
Eu tenho muito medo desse túnel. Não que a engenharia brasileira não seja capaz de fazê-lo. Mas o túnel começa na Rua Santa Catarina, no Água Verde, para terminar lá no Santa Cândida. Como a inclinação do trem é de 3%, no máximo, quando chegarmos no Santa Cândida vamos ter estações com 75 metros de profundidade. E nós vamos ter de vencer os vales do Rio Ivo, do Rio Belém, do Rio Juvevê, do Rio Bacacheri, do Rio Bigorrilho, do Rio Pilarzinho. Vamos ter uma megaobra de escavação e de fundação, que pode ser muito agradável aos empreiteiros, mas que não servirá a cidade se começarmos um metrô que não vai terminar nunca. O metrô tem de ser aéreo.
O senhor acha que falta planejamento para a cidade?
Do Graciosa Country Clube ao Bairro Novo, do guichê do banco à banca do mercado, da Assembleia à Federação Espírita, todos falam uma coisa só: a cidade está largada, a cidade precisa ser retomada. A nossa proposta não é contra ninguém, ela é a favor de um serviço público que volte a se incomodar com Curitiba.
Qual seria a principal mudança que o senhor faria em Curitiba?
Quando eu for eleito, os primeiros três meses serão de recomposição da qualidade urbana. Nós vamos remover tampas de bueiro, tirar essas lixeiras onde ninguém coloca o lixo, restaurar os canteiros, cancelar o contrato com a empresa que poda árvores de maneira criminosa. Primeiro, é uma grande arrumação da cidade, como se eu entrasse na minha casa abandonada depois de 15 anos e fosse arrumá-la para eu poder entrar bem nela.
É possível baratear a passagem de ônibus?
Ai está o ovo da serpente. Quando o Beto Richa usou como moeda de troca política o preço da passagem de ônibus, ele começou a destruir o sistema de transporte de Curitiba. As coisas custam o que custam, elas não custam aquilo que me leva para o poder. Ele sacrificou no altar da ambição política a qualidade de vida da cidade.
Quais metas sociais o senhor gostaria de atender?
Quero devolver humanidade ao serviço social de Curitiba. Não é nada contra os servidores da Fundação de Ação Social (FAS), mas a Fazenda Solidariedade foi fechada, a Pousada de Maria deixa a desejar, os serviços sociais já não são atenciosos com as pessoas. As populações de rua estão sofrendo e o centro da cidade hoje é uma cracolândia em construção. Tudo isso me faz muito mal.
Qual o seu local favorito em Curitiba?
O Parque Tanguá no pôr do sol.
Onde menos gosta?
Embaixo do viaduto do Capane­­ma, onde o meu restaurante a um real virou cracolândia.
Em que época do ano o senhor acha Curitiba mais bonita?
Incomparável. Curitiba em abril.
Do que mais gosta na cidade?
Dos pinheiros.
Do que não gosta em Curitiba?
De quando faz um calor muito abafado e minha pressão baixa.
Como definir Curitiba?
Minha amada Curitiba.
E o curitibano?
São meus irmãos por parte de cidade.
Quando está fora de Curitiba, do que o senhor sente falta?
Até da umidade eu sinto falta. Sou uma pessoa com a alma úmida. Fui muito infeliz em Brasília, onde o ar é muito seco.
E o que o senhor traria de outras cidades para Curitiba?
A tradição cultural de Roma, a mobilidade de Paris, a animação de Nova York e a alegria do Rio de Janeiro.
Na opinião do senhor, os curitibanos são fechados ou tímidos?
Os curitibanos são montanheses. O povo da montanha é sempre mais tímido.
O senhor tem alguma lembrança de uma Curitiba que não existe mais?
Agora existe muito a cultura de mercado. Mas a cultura profunda, da cidade que já teve o Templo das Musas, que cultivou os círculos literários, que motivou o pensamento pitagórico, que fundou a Universidade, isso se perdeu.
E quais são as suas lembranças de infância em Curitiba?
Tenho saudade da coalhada da Confeitaria Schaffer, servida pelo senhor Nilton Cavalcante. Das procissões antigas, que saíam da Catedral ao som das matracas na lua cheia da Páscoa. Tenho saudades do velho padeiro da Padaria América, que oferecia nessa época do ano [próxima ao Natal] os seus corações de massa de mel com sorriso de bom apetite. Mas, na verdade, quando eu tenho saudades dessa Curitiba que pertence à minha memoria, eu acho que eu tenho saudades de mim mesmo, do menino que eu já fui, ou do menino que eu ainda tento ser.
Qual o seu parque favorito?
Gosto de todos os parques que eu fiz ou criei.
O senhor frequenta alguma feira da cidade?
A feira em frente à Igreja do Coração de Maria, a do Largo São Francisco e o Mercado Municipal.
Uma praça de que o senhor gosta.
A mais bonita é a Eufrásio Correa, feita em 1903, com o seu chafariz trazido de Paris pelo prefeito da época.
Em que escola o senhor estudou quando criança?
Na escolinha Tia Paula e no Colégio Medianeira.
Um programa cultural imperdível.
Um concerto na pedreira a luz de velas.
Algum lugar pouco conhecido em Curitiba e que indicaria a um amigo visitar?
Um aperitivo no Armazém San­­tana, do falecido Pedro Espaque, na Rua Salgado Filho. Outro lugar da curitibanidade é o almoço de domingo da Chur­­rascaria Ervin, na Mateus Leme, onde existe a mais honesta maionese do mundo e o melhor filé.
Algum personagem histórico de Curitiba que o senhor admira?
[O artista plástico] Poty Lazarotto, que era capaz de desenhar a alma da cidade.
E atual?
O [artista plástico] Hélio Leites, o Zé do Botão. Com seu museu de botão e suas fábulas contadas na cabeça de um alfinete, é um personagem fascinante da cidade.
Como o senhor se define?
Eu sou o Rafael de Curitiba.

Quem é
Rafael Greca - PMDB
Nasceu em Curitiba, em 1956
Foi prefeito de Curitiba de 1993 a 1996, Ministro, Deputado Federal e Estadual.

  
Créditos:
Caroline Olinda
gdp

2 comentários:

  1. Pessoas
    A entrevista é marcante, não se pode negar, já que vem de um cidadão que parece ser um apaixonado por Curitiba.
    Quando 'linkei' a entrevista no facebook, um amigo apontou algumas falhas de informação, confesso que não tenho conhecimento para rebatê-las, porém acredito que mereça crédito seu comentário.
    Reitero que este espaço está aberto a discussão e para tal convido os leitores a externar suas opiniões, já que a intensão é exatamente esta, de provocar o debate e escolher bem nosso próximo mandatário...

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  2. Totalmente verdade o que Greca fala sobre o abandono de Curitiba, nasci em Curitiba e vivi nela por 48 anos, e nunca a vi tão feia. Largo da Ordem abandonado - coitado do relógio das flores - dá medo ir para o centro à noite... asfaltos em péssima situação - apenas ruas principais são reasfaltadas - o que o turista vem fazer aqui? passear de ônibus aberto? Enfim, saí de Curitiba este ano para viver em Cianorte por questões de saúde e familiares, mas torcemos que o Fruet melhore Curitiba em todos os aspectos.

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